quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sentindo falta do que???



“ Nesses tempos em que tudo é facilidade”- como dizem as anciãs- em que não precisamos mais criar os animais em nossos quintais para levar carne, leite ou ovos à nossa mesa, nem seguir até o riacho para lavar as nossas roupas, nem cortar a lenha para preparar nossos alimentos e aquecer os nossos corpos, surge não raras vezes, um estranho sentimento de “ falta de não sei o que”.
Parece que fomos contaminados pelo “ vírus” do “ sentir coisa nenhuma” .
Basta que estejamos “seguros” e rotineiros demais para que os primeiros sintomas apareçam: um vazio que começa modesto e vai se agravando até transformar quase todo o nosso interior em “ coisa nenhuma”.
O tal sintoma “ coisa nenhuma” em último grau é conhecido como “ depressão”.
Eu ainda não conheci nenhuma pessoa que não tivesse experimentado esse sintoma, e você?
As pessoas disfarçam bem, fingem serenidade, dizem que são assim mesmo, mas se você ousar fazer-lhes a seguinte pergunta mágica : -“ Você sente falta do quê???” , depois do espanto inicial- afinal pessoas “ normais” não fazem essas perguntas- poderá constatar o sintoma descrito através de um bom e sonoro: -“ NÂO SINTO FALTA DE NADA!”
Não que o natural seja que estejamos sempre “ na falta”. Mas, o natural é que estejamos sempre envolvidos com alguma vontade, com uma idéia, com um anseio por experimentar ou viver algo.
Se os sintomas não forem tão graves, você poderá ouvir: - “ Sinto falta daquele tempo, daquela pessoa, daquele fato...”.
Sabe-se que o tal “vírus” ocasiona em seus portadores uma total desesperança e uma completa falta de sonhos.
Quando Shakespeare disse que somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos, imagino que ele também queria nos lembrar do caos provocado pela falta deles.
Sendo feitos da matéria dos nossos sonhos, sem eles não ficamos no vazio?
O vazio não é de todo ruim, porque nada está absolutamente vazio, mas preenchido de potencialidades. Porém, o corpo, templo da vida, veículo da alma, que está conectado com o aqui/agora se ressente do vazio, porque esse lhe parece com a morte.
Em sua busca desesperada por prazer, o corpo começa então a atrair a atenção do portador do vazio para a realidade.
Através dos principais sintomas que retratam a falta de sonhos, alegria e interesse no presente:
• Apatia, desânimo
• Sensação de vazio ou angústia
• Falta de motivação
• Sensação de que nada poderá ser como antes
• Tédio
• Conflitos aparentemente insolúveis
• Restrições,
• Etc..

É fantástico estar satisfeito com o que se tem e com o que se vive. Melhor ainda viver grato por tudo isso. O fato de estar satisfeito com algo não o impede de sonhar e desejar experiências ainda melhores.
A Fonte Criadora deseja preencher a nossa existência com experiências tão maravilhosas que ainda não somos nem capazes de imaginá-las.
Quando estamos na alma, com a alma e através dela, quando estamos conscientes de que a mente é apenas um aparelho a serviço da alma, entramos num estado dinâmico e fluídico de viver.
Surge uma espécie de “ inquietação curiosa”, uma vontade de aprender, de fazer, de experimentar, de crescer e o corpo responde de maneira prazerosa e terna.
Quando isso acontece você percebe que algo no seu interior adquire uma espécie de inocência ( que muitos olhos ainda não perderam!) e que algo rejuvenesce, se torna mais vivo, mais quente, mais flexível, mais afetivo. Não preciso nem dizer que se torna possível vislumbrar no espelho os olhinhos curiosos da criança por detrás dos seus próprios olhos.

Tudo começa e acaba no mesmo ponto: “a criança”.
Você não foi criança. Eles ainda estão aí, ela e o adorável bebê que você foi. Ao afastar-se deles você se priva principalmente da afetividade e da capacidade de sonhar. E sem isso sua vida fica vazia e sem sentido.
A afetividade é uma maneira prazerosa de se relacionar com a vida. Os sonhos são as sementes do amanhã.
Já que as crianças adoram ser ouvidas e os bebês necessitam de cuidado e atenção, experimente aproximar-se deles, fazendo-se no espelho a seguinte pergunta: “ – Do que estou sentindo falta?”
Tenha paciência consigo e mantenha seus sentidos em estado de alerta. Com o tempo algum insight ou impulso surgirá. Lembre-se de que a criança e o bebê identificam-se com o corpo e não com a mente. Assim, não se espante se surgirem impulsos pouco elaborados ( qualidade da mente!) tais como: - “ Preciso caminhar descalço à beira-mar!”, ou ainda: -“ Quero dançar, brincar, me movimentar!”
O prazer está nas coisas que adorávamos quando crianças: aconchego, ternura, alegria, descoberta, exploração, imaginação, cores, sabores, sons, texturas, cheiros e sensações.

Se você se permitir olhar a vida através dos olhos da sua criança, sei que nos encontraremos em algum momento, num campo florido para colhermos flores amarelas, ou aquelas que você preferir, ou quem sabe apenas nos deitaremos na grama macia para descobrirmos os animais que se escondem no formato das nuvens. E nos sentiremos plenos e felizes por isso.
Como não teremos mais medo uns dos outros nunca mais nos sentiremos “ ressecados” por falta de afeto e abraços.
Os abraços nos lembram de quem somos, abuse do afeto em seu caminho até lá. Se não puder abraçar sorria, se não puder sorrir ao menos não julgue com o olhar. Você se sentirá muito melhor com isso!
Dê-se tempo para ouvir os anseios do seu coração, por mais tolos que eles pareçam (mente). Experimente atendê-los ( coração). Nada é insignificante quando repleto de sentido interior. E o sentido não pode ser comum, cada um tem o seu, porque cada um é um universo.
Quanto ao que os “ outros” pensarão ou como reagirão, pouco importa! Você não depende de nada além de si mesmo para se sentir bem. Tudo é uma escolha. Além disso, eles também são apenas crianças, todos somos apenas crianças! Nossos anseios mais profundos não mudaram muito com o passar do tempo...continuamos em busca de amor, como no primeiro dia em que chegamos nus nesse planeta e soltamos o nosso primeiro grito.
Ame-se muito e para sempre!!!

Encontro você lá no final do arco-íris!

Um abraço apertado,

Adely Branco



* Escrevi esse texto inspirada no poema que compartilho com vocês, escrito em uma antiga noite enluarada.

POESIA – Adely Branco

“ Entre o ideal e o real, escolho o real,
Sem isso nós jamais alcançaremos o ideal.
Enxergo nas delicadas entranhas do agora,
A poesia que se aninha oculta em cada amanhecer.

Há tanta poesia nos dedos e braços,
Nos passos ritmados, na dança colada,
Nos giros incessantes dos corpos que sorrindo bailam.

Há tanta poesia no ronronar dos nossos gatos,
No miar dos nossos passos,
No descanso dos nossos laços.

Há tanta rima sob os nossos sapatos,
Tantos espelhos entre os nossos gestos,
Tantos sorrisos entre os nossos compassos,

Que a poesia acontece como algo natural,
Como tudo o que sonho e sinto
Como tudo o que vivo e sou.. .”

Um comentário:

Fernanda Cintra disse...

Perfeito....
como sempre...lindo texto, linda poesia...
AS vezes faz falta ser criança...
e deixar q ela nos mostre o que nos falta...
beijoss