quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Em busca da paz nas relações


“Padecemos de uma espécie de isolamento que cria a ilusão de que é seguro nos mantermos afastados uns dos outros,
Quando no fundo nosso maior anseio é pelo encontro.
Construímos muralhas de areia aparentemente seguras,
“Trocamos os pés pelas mãos” em nossos relacionamentos,
Nos apavoramos, entramos em desespero, botamos todo o vir à ser do amor a perder,
Mergulhamos profundo em nossas próprias ilusões repletas de suposições,
Atacamos evitando sermos atacados,
Abrimos feridas e abismos imensos entre nós e as pessoas que amamos,
Simplesmente porque não sabemos ouvir e falar, à partir do coração.”

A dor do nosso isolamento é em parte estimulada pela carência de nos sentirmos verdadeiramente ouvidos, acolhidos, confortados e compreendidos.
Não podemos culpar os outros por esse fato.
Nós, assim como eles, temos uma dificuldade imensa em relação a isso.
Quando falo “ouvir”, me refiro ao ato de acolher os pensamentos e os sentimentos do outro, sem tentar encontrar respostas, sem fazer julgamentos ou críticas. Isso é difícil, não acha? Eu acho! Especialmente naquelas horas em que nos sentimos atingidos pelas “flechadas” do mau humor alheio.
O que nossos ouvidos não estão treinados a ouvir é que nessas horas, por detrás das cobranças ou dos lamentos mal-humorados, há sempre um pedido de socorro.
Não acho que somos obrigados a atender a nenhum pedido de socorro, é nosso coração quem deve sinalizar se devemos ou não. Mas acredito que é importante aprendermos a respeitar esses momentos de dor.
Na maior parte das vezes não é isso que estamos programados para fazer. Num impulso nos tornamos reativos e começamos com a “ladainha de perseguição mental”.
Aí rapidinho o “caldeirão esquenta” e a coisa ferve, desenterramos todas aquelas velhas caixinhas repletas de emoção guardadas a sete chaves em nossos escuros porões e aproveitamos para “desenterrar todos os defuntos do passado”.
Assim todo mundo só se machuca e, sinceramente? Ninguém ouve ninguém, porque inconscientizamos todas as palavras carregadas de emoções que possam nos ferir.
Além do mais, tem horas que a gente só precisa falar, desabafar, vomitar palavras ao vento, descarregar a tensão interior. Levamos tudo muito a sério! Deixa o outro falar de vez em quando, experimenta não sentir, não entrar na dele, dali a pouco tá tudo bem, o outro relaxa e quem sabe se abra então para ouvi-lo. Gente é assim mesmo, às vezes tá feliz da vida e de repente muda, incorpora o “veio (a)”, que mora em todos nós. Fica chato, reclama, critica. É só não fazer drama, não entrar na vibração. Sabe “ouvir” também significa saber o que ouvir e o que simplesmente “deletar”.
Falta-nos um pouco mais de generosidade em relação aos sentimentos dos outros, simplesmente porque nos falta generosidade em relação aos sentimentos que mantemos por nós mesmos.
Lembra daquela história de que o outro é só uma extensão do eu? E que a separatividade é apenas uma ilusão da mente?

Se formos capazes de quebrar as barreiras internas tais como o medo e o egoísmo, que nos impedem de nos ouvirmos, certamente construiremos relações bem mais reais e felizes.
Aprender a ouvir já resolve uma grande parte dos problemas nos relacionamentos. Isso, porém, não é o bastante.
Precisamos aprender a comunicar as nossas necessidades e não fazer delas uma sessão de torturantes cobranças ou acusações.
Temos muita dificuldade em falar diretamente sobre o que precisamos. Damos muita ênfase ao que não queremos,assim, perdemos horas a fio cobrando, culpando, acusando, sem nunca chegarmos a lugar algum.
Falar sobre si mesmo é também uma arte que exige persistência e sabedoria.
Algumas vezes também falta-nos a compreensão de que o “outro” é o outro e que, portanto, é alguém completamente diferente.
As diferenças nos assustam e costumamos entrar na ilusão de moldar o outro à nossa imagem e semelhança, será essa uma vontade oculta de “brincarmos de Deus”?
Se o “outro” é o outro ele jamais poderá pensar os meus pensamentos ou adivinhar o que me satisfaz, assim como eu jamais poderei fazê-lo. Necessitamos de muita generosidade para nos mostrarmos ao outro da maneira como verdadeiramente somos e para permitir que o outro faça o mesmo.
É preciso que o “Eu” seja também ouvido constantemente.
Sem essa generosidade com os outros e consigo mesmo dificilmente “tocaremos” ou seremos verdadeiramente “tocados” pelas outras pessoas e nosso gélido castelo de isolamento permanecerá.

Um abraço fraternal

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